Os dias felizes e a saudade
Não costumo definir os dias como felizes ou infelizes. Tenho para mim que há dias para tudo e que é, aliás, necessário, a bem da minha sanidade mental, que assim seja. Reconheço, porém, que há acontecimentos que tornam as recordações de certos dias mais felizes. Hoje foi um dia desses. Ver o nosso trabalho reconhecido é uma sensação boa. Não consigo, todavia, deixar de sentir estes dias como uma malga cheia de água onde cai, gota a gota, um fino fio de azeite. Há sempre uma tristeza ao cimo de mim, uma melancolia à tona da superfície límpida que a mancha. É nestes dias que mais sinto a tua falta, avó. De correr para casa para te contar. Da tua atrapalhação para atender o telemóvel que nunca soubeste vencer. Do cheiro das tuas batas e do teu avental. É nestes dias que a tua ausência me dói, avó. E é estranho que seja nestes dias que o nó na garganta me aperte mais e os soluços me sacudam o peito. Porque era suposto serem dias felizes.