Há algum tempo que não lia um livro de fio a pavio sofregamente. Sem parar. Nem mesmo para respirar. Fundo, pelo menos. Ou foi o que me pareceu. A leitura como a escrita: alucinante, a um ritmo que nos prende e não nos deixa ir. Mesmo que estejamos cheios de frio e não queiramos sequer abrir uma manta para colocar nas pernas. Porque isso significa perder alguns segundos. E aquelas palavras, escritas há tantos mas tantos anos, não podem esperar agora. Nem pela manta, nem pelo chá, nem sequer por despir o casaco comprido com que nos sentámos no sofá. Noventa e três páginas maravilhosas. Seguir-se-ão mais, espero eu. Porque a obra da primeira mulher a quem foi atribuído o Nobel da Literatura tem muito por onde seguir, neste caminho que hoje abri. Porque volto a ser a criança de seis anos, sentada nas escadas do sótão da casa dos meus avós, quando fecho o livro que li de uma assentada, com um sorriso nos lábios, de mão ainda pousada na contracapa, su