Eu tratava de brincar com o léxico subterrâneo de Buenos Aires, mas aquilo que ao Tucumano saía com naturalidade, a mim confundia-me. Às vezes, nas reflexões que escrevia para a minha tese, escapavam-se algumas dessas palavras fugazes. Suprimia-as assim que me dava conta, porque ao voltar a Manhattan já as teria esquecido. A língua de Buenos Aires movia-se tão depressa que primeiro apareciam as palavras e só depois surgia a realidade, e as palavras continuavam quando a realidade já se tinha ido embora. 'O cantor de tango' Tomás Eloy Martinez Buenos Aires é a história, vivida e calcorreada por quem a conhece. Povoada de personagens que ali viveram mas, desta vez, recriadas numa existência paralela, desvio da realidade das biografias históricas, quase quase verosímil, e como peões de um mapa histórico da cidade e das atrocidades que sofreu durante a ditadura, por entre tangos e milongas , os fantasmas-sombra de Evita e Juan Péron, Carlos Gardel, Jorge Luis Borges e Julio Martel.