Vida em branco
Há alturas em que, muito pura e simplesmente, não me apetece viver aqui: ou não tenho nada para contar ou não me apetece contar o que se passa.
Há outros instantes em que a minha vida exterior é esmagadora e mal me deixa respirar, em que me atropela e me faz correr como se um maremoto cavalgasse atrás de mim e nada mais me restasse senão galgar destroços e evitar desesperadamente ser engolida pelos acontecimentos, lutando para me manter à tona sem me engasgar.
Há instantes, porém, em que a vida interior, apesar de calma, é tanta e tão produtiva que quero viver aqui. Muito. Em que tenho coisas que quero contar. Senão aos outros - porque se contam pelos dedos de uma mão, apesar de fiéis, os que as lêem...! -, guardá-las, ao menos, neste registo que posso visitar.
É esse, na verdade, o objectivo cruamente egoísta deste blogue: uma espécie de 'journal' em versão cibernética.
E sinto falta de escrevinhar, de postar, de recordar as experiências boas que tenho vivido, de guardar nas gavetas deste arquivo os filmes que tenho visto, os livros que tenho lido, as pessoas com quem tenho estado, os lugares onde tenho ido, os momentos dançados.
Muito porque me faz falta revisitar.
Sou uma rapariga de prateleiras com álbuns de recordações e com caixas de objectos que só para mim fazem sentido, porque disparam uma memória de um momento passado.
Não tenho tido tempo. E faltou-me até agora a disposição.
Estou em falta com o que vivi.
Não estou em dia com o que vivo.
Sinto a vida em branco.
Comentários