Vacinação

Na discussão, tão na moda, acerca da vacinação, não consigo deixar de achar alguma graça - que, obviamente e na realidade, não tem graça nenhuma! - ao argumento das alergias à vacina e da hipótese de um choque anafiláctico.
Como uma boa parte dos meus amigos - pelo menos, aqueles que mais de perto convivem comigo - saberá, eu tenho alergia grave a alguns alimentos, sendo que o mero contacto com os mesmos e, por regra, a sua ingestão, ainda que em quantidades ínfimas, pode provocar-me uma reacção violenta como um choque anafiláctico.
No entanto, nunca isso impediu os meus pais de cumprirem, na minha infância e adolescência, de forma escrupulosa, o plano nacional de vacinação.
E, na minha idade adulta - momento em que as alergias mais se intensificaram -, face às inúmeras viagens a zonas do globo afectadas por doenças contagiosas com efeitos graves, sempre optei por tomar as vacinas, por entender que os riscos da sua toma, a existir, valiam a pena.
Fi-lo - e continuo a fazê-lo, sempre que necessário for -, no entanto, de forma consciente e reflectida. Recolhi previamente informação que esclarecesse as dúvidas que tinha, informei os médicos e os enfermeiros das alergias que tinha e tomei - e tomo - as vacinas em condições que permitem uma intervenção rápida e eficaz (se necessário for, levo comigo um injectável de epinefrina).
Em muitos dos comentários que li, os autores dos mesmos enchem a boca para falar das situações de choque anafiláctico, sem perceberem muito bem o que está sequer em causa.
Já tive um choque anafiláctico? Já. Mais do que uma vez.
Por causa de uma vacina? Não. Por coisas tontas, de tão inofensivas que são, como um kiwi ou Martini.

Mas se me perguntarem se prefiro correr o risco, minimizado pela criação de condições que permitam controlá-la, de uma reacção violenta ou a probabilidade elevadíssima de me expor a doenças infecto-contagiosas graves por falta de vacinação, que, contraídas, terão consequências bem mais desastrosas do que a do choque, é sem a menor hesitação que vos digo que me decido pela vacinação.
Só quem não sabe a espada de Dâmocles que é ter um kiwi na fruteira de casa ou jogar a roleta russa de comer uma peça de fruta num restaurante que tenha sido cortada ou descascada com a mesma lâmina com que se cortou um kiwi é que pode arriscar outra resposta.

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