Recado intimista
Fazem falta sempre aqueles
- poucos -
que nos saúdam e brindam de saudade
quando nos chega
- de surdina -
o roçar dos pensamentos
da lonjura e da lembrança...
Falta fazem aqueles
que não desvirtuam
- por temor ou condição -
a nudez dos laços
estreitados de inocência e rubores de fantasia
onde apenas o prazer da entrega
se recreia
sem aperto de renúncias
nem amarras de paixões
lídimo de quimeras
e desígnios excomungados...
Fazem falta aqueles
que nos dissipam fráguas
estendendo a mão
de ternura acarinhada
quando as lágrimas adivinham e prometem
alvoradas pagãs de sofrimento
tisnadas de um cinza quase húmido de solidão entristecida...
...quando os ventres se fecundam de amargura
e os seios se deslaçam de abandono...
...quando os olhos se perdem
- fugitivos -
no vazio dos chãos
e os braços desertam ilusões
em núpcias de névoas e desgostos
que o silêncio, sem recato, põe a nu...
Falta me fazem os meus amores
meus pares no meu sonho mais dilecto
rufando aromas em rusgas de tambores
no meu peito mais profundo e mais secreto...
Falta me fazes tu!...
Arnaldo Silva
'As safiras são azuis'
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