Os dias em que não parecemos pacotes de açúcar
Há dias e dias.
Há aqueles em que parecemos aqueles pacotes de açúcar amarelinhos da Nicola, que dizem 'Um dia...'.
Hoje não foi um desses dias.
Hoje foi daqueles em que, em vez de pensar 'um dia, vou ter vontade e oportunidade para concretizar um monte de coisas que já ando há montes de tempo para fazer...!', fiz mesmo.
Depois de um almoço, na esplanada, à sombra, no Centro Comercial Bombarda, eu e a Joana, a amiga e vizinha de cima, fizemos uma verdadeira epopeia de deambulações pela baixa.
Passeámos pelas ruas antigas, entrámos e saímos de lojas, descobrimos pechinchas em armazéns e lojas de aspecto mais do que duvidoso - desde tecidos para o patchwork e enchimento para almofadas e bonecos até sandálias e sapatos...! - e foi uma verdadeira alegria de pequenas comprinhas.
Ah, e ao vasculhar a Rua dos Caldeireiros à procura de enchimento para almofadas, descobrimos uma autêntica pérola: uma loja, no n.º 11 da Rua do Arquitecto Nicolau Nazoni, obscura e pequena, onde, a mais de umas duzentas máquinas de costura antíquissimas - cujas marcas vão desde a Singer à Oliva, passando por dezenas de outras que nem sequer conheço e que estão, se não desaparecidas, pelo menos, em vias de extinção! -, havia todo o tipo de artigos para máquinas de costura, completamente atravancados e amontoados, num caos organizado.
Mas os donos, uns senhores já com alguma idade, foram de uma simpatia tal que se despediram de nós com um aceno de 'até breve', como se fôssemos velhos conhecidos.
Gosto tanto destes simples momentos de familiaridade espontânea de que é feito o comércio tradicional.
E - não é só por isso mas também! - é por isso que sei onde vou levar a velha máquina de costura da minha avó a reparar.
É - quase! - um dever impedir que os armazéns quase seculares onde comprámos os tecidos a preços imbatíveis e lojas como esta fechem ou se dissolvam no mar de insolvências que por estes dias povoam os nossos tribunais.
Muito se perde, especialmente em termos humanos.
E não falo apenas nos postos de trabalho que se perdem e nas consequências desastrosas para as pessoas que desses negócios dependem.
Falo também por mim. Pela Joana.
Pelas pessoas que sentem com alegria e um sorriso no rosto momentos como o desta tarde, nas lojas e armazéns, todos antigos e do comércio autenticamente tradicional por onde passámos.
Concluindo: a sugar free day!
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