E agora, tantos anos depois, contar histórias é um hábito crónico; não sei fazer outra coisa. Mas, hoje em dia, a mitologia que me espicaça a curiosidade é a das alternativas imaginadas. De certa forma, as escolhas e as contingências fazem com que estejamos onde estamos, que sejamos a pessoa que somos, e todo o processo parece tão incerto que, quando olhamos para trás, para esses momentos climácticos em que as coisas podiam ter sido totalmente diferentes, em que a vida poderia ter tomado um rumo diferente, ficamos a pensar neste desfecho aparentemente arbitrário. Os romancistas têm um controlo absoluto sobre o seu material - o que escrevem, o que deixam de escrever, a forma como as pessoas devem comportar-se, o que tem de acontecer. Esse, claro, é também o problema ao escrever ficção, e explica muita coisa, desde o bloqueio do escritor (que significa muito simplesmente que não sabemos como continuar) até às deficiências individuais. Mas o escritor consegue impor a ordem ao caos, impor ...