Há coisas que nunca mudam

Desde a minha infância tardia que 'La Negra' e as suas canções - ou melhor diria, os seus hinos - povoam a minha vida.

Sempre lá regresso.
Caído entre amores que jazem em secos leitos, esquecido no campo das feridas que tristeza e lamento sangram, nas desilusões das trincheiras e dos enganos que nelas resistem, é aqui que encontro o baluarte das minhas guerras perdidas.

São palavras ditas por ela o ombro que carrega o meu moribundo porta-estandarte.
Que o arrastam, à força de braços, por sulcos de lama e tropeções pedregosos, até ao hospital de campanha.

Há coisas que nunca mudam.
A névoa ardente que dança nos meus olhos e a labareda que no meu peito se arrepia quando ouço esta música, este poema de Julio Numhauser, da maneira como ela os canta.

Mercedes Sosa, 'La Negra', é a voz daquilo que sonho para um mundo que valha a pena.
Cada música dela, cada poema a que ela dá voz me sussurra algo, alguém.

Algo que vale a pena viver, sonhar, respirar.
Alguém que vale a pena amar.

E que sonho que nunca mudem.

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