Um armário cheio de vestidos

Na semana passada, fiz algo que já não fazia há anos.
Passei a tarde de sábado com o meu pai, nas compras de Natal.
Entrámos e saímos de quinhentas mil lojas...sem exagero, claro está! E, se peco, é por defeito.

A parte importante foi que, além de o balanço em termos de compras ser positivo - risquei umas poucas da minha lista! - e ter sido um tempo bem passado com o meu pai, dei comigo, surpreendida, a pensar 'Caramba, não venho às compras de roupa para mim há séculos!'. A que se seguiu um óbvio 'Irra, que o meu guarda-roupa está mesmo a precisar de uma remodelação!!. E um ainda mais gritante 'Porra, tenho que comprar trapinhos novos, que os meus estão uma lástima!'.

Bom, três respirações fundas depois, comecei a raciocinar sobre o tema.
E, quando cheguei a casa, já tinha tirado algumas conclusões sobre o assunto.

Ora bem.
As linhas de força são a preguiça - também chamado por mulheres como eu, de pragmatismo! -, o asco a centros comerciais, a falta de tempo e - espante-se! - o facto de ter boas mãos e/ou ser teimosa como uma mula, quando se me mete uma coisa na cabeça.

A preguiça, porque, na verdade, me custa imenso levantar de manhã e muito simplesmente agarro numas calças de ganga e numa camisola qualquer e lá vou eu trabalhar. Se tivesse que pensar muito na toilette, estava bem tramada.

O asco a centros comerciais, por razões irracionais, tão óbvias como detestar aquelas luzes artificiais, que me fazem uma dor de cabeça hedionda e que só aguento - quando vou ao cinema - em doses de quinze minutos, antes de a minha cabeça entrar em 'MI mode' e o meu cérebro se começar a autodestruir, decorrido esse tempo.

A preguiça nas compras, porque - para quem não sabe, eu explico! - essa coisa do entrar em loja, sair de loja, provar roupa, voltar a vestir a roupa que se trazia, é uma canseira para a qual já tive mais paciência e que, no meu caso, ao que parece, se aguenta cada vez menos.

A falta de tempo - e, pior do que isso, de disposição! -, até porque a minha inner life, tal como a vida cultural, tem sido um alegre corropio...!

E, at last but not least, tenho começadas peças de roupa que estou a fazer para mim própria - e umas quantas ideias ainda melhores para outras peças! - que ainda não consegui acabar e custa-me comprar coisas que, para além de não ter a certeza de me ficarem assim tão bem, eu posso conseguir fazer!!!
Daí a minha resiliência...ou teimosia de mula com ideias, chamem-lhe lá o que quiserem.

A pior parte é walking into my closet (e esta parte do walking é literal...) e levar um banho de realidade, ao som das palavras da minha avó, a ecoar na minha cabeça, 'Ó filha, porque é que não usas um vestidinho ou uma saiazinha...?! Tens alguns tão bonitos...!', isto ainda antes de me oferecer um subsidiado suborno para comprar um novo.

E não é que tenho mesmo...?!
É isso e sapatos e botas de salto alto que me pregam rasteiras...

Talvez deva começar a usá-los.
Mas, para isso, vou ter de começar a levantar-me mais cedo.

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