Por falar em cinema




As palavras-chave são 'desilusão', 'estereótipo' e 'fácil'.
É este o resumo que faço do filme.

Se a ideia não é de todo mal apanhada e conceptualmente interessante, o desenvolvimento da ideia apareceu-me como um todo mastigado, sensaborão e, a certa altura, monótono e secante.

Posso dizer, sem grandes dificuldades, que a única cena que me arrancou uma gargalhada sentida foi a da cena non sense e inusitada - se calhar, por isso mesmo, gostei! - do detective contratado que, de repente, interrompe o pequeno-almoço do Luís e da Maria Antonieta, em pleno Palácio de Versailles, e desata a correr, perseguido por dois guardas reais, Sala dos Espelhos fora.

O resto foi um desfiar longo e penoso de repetição da mesma ideia até à exaustão.

Fez-me alguma impressão - apesar de até poder corresponder à verdade histórica...sei lá! - ver o Hemingway que marcou para sempre as manhãs melancólicas da minha vida com a cena final do 'Adeus às armas' caricaturado tão facilmente como um tipo embrutecido e aparvalhado e o Dali reduzido ao significante visual de um rinoceronte, na visão própria de um dos maiores pintores do século XX.

Bom, quando cheguei à cena 'Folies Bergère', já estava a antecipar - obviamente! - um Toulouse-Lautrec de bibe, boina na cabeça e palette na mão, e pensei 'Não, isto não vai acontecer. É demasiado fácil, too obvious!'. 
Pois parece que não foi.

Foi o definitivo balde de água fria, nem sequer suplantado por um final que fez jus ao resto do filme: sensaborão, sem imaginação 'a la Allen' e muito para além do gritantemente óbvio.

Os postalinhos visuais também são perniciosamente óbvios: apeteceu-me gritar de tédio quando vi a 'Shakespeare & Company', uma das minhas livrarias favoritas, a aparecer, desgarrada de qualquer contextualização, assim no fim do filme, à laia de 'ainda não tinha posto cá isto porque não tive imaginação para uma cena que o justifique mas não podia faltar!'.
Mais uma vez: forçado, muito forçado.

Posso estar a ser dura mas achei insultuoso para quem gosta do génio do Woody Allen no seu melhor.

Dito isto, Paris será sempre Paris.
Ainda que não à meia-noite. E, definitivamente, não pela mão do Woody Allen.


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