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A mostrar mensagens de 2014

Coisas do ano velho - I

Depois da minha viagem ao Quénia e à Tanzânia, estou certa de uma coisa: muito dificilmente serei capaz de voltar a entrar num jardim zoológico. Para lá da enorme tristeza que me assolará, sei que me sentirei tremendamente incomodada com a absoluta falta de respeito que significa manter outros seres vivos dentro de gaiolas e limitados a espaços claustrofobicamente minúsculos. Já o disse muitas vezes: não me sinto capaz de ter um animal de estimação nem sou daquelas pessoas loucas por animais. Apesar disso, nunca tratei mal, pelo menos de modo intencional, qualquer animal. Bem pelo contrário, sempre tratei os animais com que, por uma razão ou outra, me cruzei com respeito e bondade. Mas, depois de uma viagem como a deste Verão, o que sinto em relação aos animais, em especial à vida selvagem, mudou radicalmente - assim como também mudou a opinião que tenho acerca de pessoas que mantêm nessas condições os animais. As verdes colinas de África, como a pen

Porque não me esqueço eu de viver...para viver?

Boa noite

Deep water, light music

As músicas de aeróbica, sejam dentro de água ou em terra firme, são, por natureza, medonhas. Na verdade, aquelas músicas versão-techno-a-martelo são, numa expressão que me costuma ser muito característica, de fechar o tasco! Há umas semanas calhou-nos a musiquinha da cena final do 'Dirty Dancing'...em versão techno, pois claro!, o que gerou alguns sorrisos cúmplices entre as praticantes da modalidade deep water. Mas, esta noite, a selecção musical foi tão arrasadora que os utentes da pista de utilização livre, os praticantes do jogo de pólo aquático e mesmo aqueles nadadores da pista do lado que chapinam água que se farta, do alto dos seus estilos 'crawl' ou 'mariposa', e que me dá cabo das lentes de contacto, pararam para ouvir. E mesmo para cantarolar. Foram as músicas dos anos 80 ou, como lhes chamo carinhosamente, dos 'azeities' portugueses. Desde os Heróis do Mar aos Xutos & Pontapés, e dos Da Vinci ao Carlos Paião, foi um de

O rio II

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Sempre gostei muito de caminhar. Foi uma coisa que sempre me arrumou a cabeça. Uma coisa que sempre me fez feliz. O que não é díficil, quando se mora numa cidade tão bonita como o Porto. É jargão falar-se da luz de Lisboa. Eu percebo. Ainda para mais, quando o ouço sair da boca de pessoas a quem o sol faz mesmo muita falta. Mas eu sou do Norte. Desse norte granítico, onde as pedras das margens do rio me conhecem bem. Da luz cinzelada que inunda esta cidade. Dos fins de tarde frios em que os olhos procuram agasalho no pôr do sol que saltita atrás da Ponte da Arrábida. Dos faróis dos carros que tremeluzem e arrastam os pés, vagarosos, num vogar que marulha, muito mansinho, lá ao longe. É por isso que hoje, neste outono de que tanto gosto, voltei a caminhar. Prometi a mim mesma que vou tentar caminhar todos os dias. Agora que tenho tempo, é tempo de regressar ao meu caminho das pedras. 

O rio

Poema de inverno II

Poema de inverno I

I made my song a coat Covered with embroideries Out of old mythologies From heel to throat; But the fools caught it, Wore it in the world's eyes As though they'd wrought it. Song, let them take it, For there's more enterprise In walking naked. A coat, W. B. Yeats

Os dias felizes e a saudade

Não costumo definir os dias como felizes ou infelizes. Tenho para mim que há dias para tudo e que é, aliás, necessário, a bem da minha sanidade mental, que assim seja. Reconheço, porém, que há acontecimentos que tornam as recordações de certos dias mais felizes. Hoje foi um dia desses. Ver o nosso trabalho reconhecido é uma sensação boa. Não consigo, todavia, deixar de sentir estes dias como uma malga cheia de água onde cai, gota a gota, um fino fio de azeite. Há sempre uma tristeza ao cimo de mim, uma melancolia à tona da superfície límpida que a mancha. É nestes dias que mais sinto a tua falta, avó. De correr para casa para te contar. Da tua atrapalhação para atender o telemóvel que nunca soubeste vencer. Do cheiro das tuas batas e do teu avental. É nestes dias que a tua ausência me dói, avó. E é estranho que seja nestes dias que o nó na garganta me aperte mais e os soluços me sacudam o peito. Porque era suposto serem dias felizes. 

Maias ou o diabo à porta

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A minha mãe trouxe estas de Castelo de Vide. E distribuiu-as por quem apareceu lá por casa, incluindo as vizinhas. É uma tradição antiga, pelo menos no Norte do País, pendurá-las na porta de casa, na noite de 30 de Abril para 1 de Maio, e já que as tinha, decidi, como diz a minha mãe, 'deixar o diabo à porta'. Não sei se resultou mas a ver vamos...! [Gostei de ler aqui  mais sobre a tradição das maias.]

Goran Bregovic

É altamente improvável - para não dizer, impossível! - aguentar sentada, durante mais de cinco minutos, uma Sala Suggia completamente esgotada. Se isso acontecer, na Casa da Música, logo à noite, como o meu chapéu. Mas estou bastante segura de que o mais grave que pode acontecer-me, perto de comer o chapéu, é ir beber um copo depois do concerto. De uma coisa, porém, estou absolutamente certa: vai ser divertido, lá isso vai!

Earphones, please...e teletransporte intergaláctico!

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Destes é que eu precisava...a ver se consigo trabalhar em paz! Um dos problemas de se trabalhar num sítio com muitas mulheres (e, sim, infelizmente, tenho de falar contra o meu próprio género...!) é que, de vez em quando, há umas alminhas que se saem com cada timbre de voz que dão ouras ao mais comum mortal duro de ouvido! Para mal dos meus pecados - e que hão-de ser muitos, a julgar pelo castigo! -, ainda por cima têm quase sempre o botão do volume avariado, problema que, na minha opinião, já deve vir de fábrica...e se eu ainda aguento a converseta sobre malas de senhora, verniz de unhas e afins, já o tema 'implantes mamários' me causa arrepios, alguns dos quais de irritação. A acrescer a isto tudo, os técnicos de ar condicionado andam por aí a fazer testes, como se não fosse suposto terem entregue a obra há semanas, e está um frio invernal no gabinete porque só fazem os testes com o sistema ligado...! Nem consigo pensar com o frio que aqui está. Tirem-me

Flor do almoço

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Ontem.

Haja paciência...!

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(imagem retirada da net) Ter um gabinete novo é óptimo...! Mas tentar estar concentrada e sentada a trabalhar quando, de dez em dez minutos, me tenho de levantar da cadeira para carregar no interruptor de parede que liga a luz é surreal. Tudo porque, juntamente com o prédio novo, herdámos um sensor de movimento em cada gabinete que desliga constantemente a luz a quem se encontra a trabalhar: o sensor está mal posicionado e ainda não se arranjou quem cá venha desligar o estupor da célula. Ainda por cima, é um atentado ambiental: as lâmpadas são economizadoras e o arranque - que é constante - é o que causa maior dispêndio de energia! Já ameacei pegar numa vassoura e desligar eu a dita célula. Porque o meu sensor de irritação começa a olhar ameaçadoramente para a célula. E já não falta muito...não, que não! 

Grow...ou de como as sementeiras do IKEA são estupidamente fáceis!

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(Anna Garforth, retirada do mural da Facebook da design-dautore.com) Há já uns tempos que comprei, no Ikea, uns copinhos de cartão, em número de três, onde se apregoava virem a nascer várias ervas aromáticas, a saber: manjericão, salsa e tomilho. Por falta de tempo, foram ficando lá por casa...até que, no sábado, me decidi a semear as ditas ervas.

Still thinking of winter

Vasco Graça Moura

Venci um preconceito que não sei de onde vinha, talvez da imagem política que me passava, na noite em que o vi e ouvi pela primeira vez nas Quintas de Leitura. No momento em que leu 'canção da foz do douro', Vasco Graça Moura venceu todo e qualquer preconceito, barreira ou ideia feita que em mim houvesse. Não havia terminado de recitar a primeira estrofe e já eu tinha lágrimas de emoção nos olhos. Os sons, os cheiros, as pedras de que falava neste poema encheram de sentido toda a minha adolescência, toda a minha vida. A fotografia que tinha atrás de si enquanto recitou era do chão da Cantareira, daquelas pedras que tantos passos meus viram, tantos anos. Entendi-lhe no olhar que essas mesmas pedras lhe ouviram muitas confissões e traquinices. Saí das Quintas e comprei vários livros dele que li sofregamente. Trouxe-me imensas coisas vencer o preconceito. Recordarei sempre essa noite. Nem que seja apenas por esse momento ou tão-só por este poema, esta c

canção da foz do douro

foz do douro: vem cá, melancolia, a lembrar prosas de raul brandão, de gente, areia e barcos, na sombria humidade do dia e humildade no chão: palmeiras desgrenhadas, ventania, e o castelo de d. sebastião onde as gaivotas têm cidadania. na cantareira haviafome e havia ... um cheiro de sardinha, um cheiro a pão, e uma mulher de luto repetia na voz que lhe fugia o naufrágio do irmão, do filho ou do marido, a freguesia tem por antigo orago s. joão e era perto da igreja que eu vivia, longe dos pescadores e todavia tão perto deles todos, sendo tão miúdo de colégio e burguesia que até opa vestia na páscoa da paixão. hoje há folhas no vento, a homilia é de outono e distância e solidão e em névoa a foz parece que avaria. olhar o cabedelo! quem sabia que muita criadita havia então que na língua de areia se despia e na espuma emergia, ninfa de ocasião? ou pedalar na infância até onde ia uma imprudência usada sem travão e que o mercúrio-cromo traduzia! nas calçadas modestas sempre ouvia quem por