O anjo negro e a menina do mar
No pez das asas
Escondia as penas,
A esvoaçar na ausência de promessas
E com os pés de corvo
Desfiava nas contas de areia
O tempo que soprava
Aninhado na preia-mar,
Anuiu quando as ondas o cobriram
E sufocou quando, no recolher, o despiram
Das suas negras asas
Gritou
E gritou
E gritou ainda
E mar adentro correu
Mas este nada lhe devolveu
E, desolado se sentiu, sentou e esperou
Desesperou e adormeceu
Nas gotas das pálpebras semi-cerradas,
A espuma revolveu
E quando os olhos ergueu
Desvelou-a ao sair das águas
Vestida de conchas
E longos cabelos de algas
Avançava, lânguida,
De alvas mãos de búzios estendidas
No silêncio de nuvem se aproximou
E os braços de negra luz tocou
Dos olhos cristalinos apenas as ostras restavam
Nos casulos dos búzios as pérolas azuis que dançavam
Caídas como gotas de luz nas mãos de carvão que esperavam
Penas de céu e mar no sol se elevaram
E o anjo negro e a menina do mar consigo arrastaram
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E que cá estejas para ler essas coisas...